Situada no Largo da Memória e da autoria do Arquitecto Giovanni Carlo Bibiena, foi a Igreja consagrada a Nossa Senhora do Livramento e a São José, mas é conhecida como a Igreja da Memória uma vez que foi construída em memória do atentado contra o Rei D. José, que dele saiu ileso, no mesmo local.
Tendo sido um episódio falado por todo o lado gerou inúmeras versões sobre o mesmo. A 4 de Setembro de 1758, escreveu D. Mariana Vitória a sua mãe: “o rei caiu ontem de uma escada e está com um braço em muito mau estado; dizem que nada partiu nem é perigoso, mas […] estou muito sensivelmente aflita”.[1]
A Gazeta de Lisboa publicava no dia 14, a mesma teoria: “El-Rei Nosso Senhor, por causa duma queda que deu dentro do seu palácio, se sangrou no dia 4 dêste mês, e por benefício do dito remédio, que logo lhe foi aplicado, tem Sua Majestade conseguido tôdas aquelas melhoras que todos os seus fiéis vassalos lhe desejamos e havemos mister”.[2]
Nos dias seguintes há novas cartas, e em 17 de Dezembro, quase três meses e meio depois do acidente, D. Mariana escreve – “verdade daquilo que vos dou parte […] na noite de 3 de Setembro regressando [o rei] da casa de um dos outros senhores que é tão próxima daqui que eu a vejo perfeitamente das minhas janelas atiraram sobre a sua carruagem dois golpes de fogo quase à queima-roupa […] não se sabe dizer se foi ferido de dois lados ou somente de um […] a ferida no braço direito foi terrível porque toda a carne do interior do braço ficou exposta […] eu vi as cicatrizes e são verdadeiramente grandes”; acrescentando já que “deve-se prender uma família quase inteira”.[3]
Outra versão seria de que o rei, acompanhado pelo seu criado particular, Pedro Teixeira, vinha de ver a sua amante, a jovem marquesa de Távora, D. Teresa, quando foram atingidos. Há também quem defendesse que o atentado seria dirigido a Pedro Teixeira e não ao rei, a mando do Duque de Aveiro. Entre eles havia alguma luta de protagonismo junto ao rei, como afirma Rocha Martins sobre Pedro Teixeira: “cão de fila, o molosso formidável na libré ou farda de sargento-mor. Arremetia e, como sentia a carícia do dono, não deixava de mostrar a dentuça mesmo ao Duque de Aveiro”.[4]
Diz a legenda sobre a ilustração a “Egreja da Memoria”, no Diário Ilustrado, de Sábado de 31 de Maio de 1873, “ a narração d’esse attentado, as execuções que depois tiveram lugar em Belém, são bem conhecidas de todos e escusado será repeti-las. É uma página sombria da história de Portugal, e que enlutou um dos reinados mais prósperos e mais brilhantes que temos tido.” A punição sangrenta dos traidores ficou conhecida como a “tragédia dos Távoras”.
A construção da Igreja foi iniciada em 3 de Setembro de 1760 e só se concluiu no reinado de D. Maria I. É um templo pequeno, revestido de magníficos mármores, cheio de luz, com grande painel de autoria de Pedro Alexandrino.
Alega Rocha Martins que: “a corte foi à inauguração desse monumento votativo, olvidada dos parentes, sentindo talvez luto nas almas, mas ostentando galas como se o espectáculo novo barrasse de seus cérebros a tragédia, os réus e os algozes.”[5]
Desde 1923 que nesta Igreja se guardam os restos mortais do Marquês de Pombal. Foi bastante mal tratada durante as invasões francesas e fechada durante o advento da República e assim se manteve durante longos anos, reabrindo só em 1951.